Precisamos de outro modelo económico, de uma economia de quem partilha e é capaz de multiplicar valor sem exploração e sem subsídio - dependência, de uma economia de quem sabe criar emprego, inovar e valorizar as suas empresas e os seus trabalhadores. Precisamos de uma economia ao serviço das pessoas, não das pessoas ao serviço da economia.
O excesso de endividamento afecta a soberania e a autonomia de decisão de um país. Precisamos de políticas de rigor financeiro e de consolidação das finanças públicas, indispensáveis para se poderem desenvolver políticas de emprego, de crescimento económico e de defesa dos direitos sociais. Mas não podemos ficar reféns de políticas de austeridade recessivas.
Temos razões estruturais para a crise. Não nos libertaremos dos credores se não mudarmos o nosso modelo de desenvolvimento, baseado em salários baixos, fraca especialização produtiva, degradação dos recursos naturais e pouca exigência em matéria de gestão. Portugal não pode continuar a ter uma economia assente apenas na mão-de-obra barata e no betão. Também não deve transformar-se numa economia exclusivamente de serviços.
Precisamos de refazer o nosso tecido produtivo e de uma nova estratégia de desenvolvimento, competitiva, solidária e sustentável, com mais inovação, mais emprego e mais coesão. Precisamos de mudar de paradigma.
Temos de compensar as nossas debilidades estruturais com políticas activas de qualificação das pessoas, das instituições e do território.
Temos de olhar para os nossos recursos: voltar a dar à agricultura um papel multifuncional de defesa da saúde alimentar, do bem-estar e da paisagem; dignificar o mundo rural; defender a fileira florestal; proteger a natureza e os valores ambientais; valorizar os recursos marinhos e a orla costeira.
O território continental de Portugal tem uma extensão de 90.000 km2. Com as ilhas e a zona económica exclusiva, o nosso território amplia-se para 1 milhão e meio de Km2. Temos de voltar ao mar, não apenas como meio de aproximação entre os povos, mas como recurso fundamental, numa lógica de inovação e descoberta em que podemos voltar a ser pioneiros.
Temos de valorizar os nossos diferentes patrimónios, a História, a cultura, a língua, os sítios, as paisagens, a fauna, a flora, a biodiversidade, tudo aquilo que afirma a diferença e a singularidade de Portugal.
Temos de apostar na transformação do nosso perfil produtivo em direcção a bens e serviços transaccionáveis com maior valor acrescentado incorporado e com maior dinâmica no comércio internacional. Temos de diminuir a nossa factura energética e melhorar o nosso desempenho ambiental. Temos de incentivar, como tem sido feito, as tecnologias emergentes e os sectores em que temos pontos fortes, como o turismo, o património, as indústrias criativas, a saúde. Dispomos de pólos de investigação de excelência internacional, alguns dos quais tive oportunidade de visitar; de boa cobertura de redes de telecomunicações; de recursos paisagísticos, culturais e naturais com qualidade e diversidade; de um elevado potencial em energias renováveis; e de possibilidades de reforço da cooperação económica e cultural no espaço da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
Precisamos de refazer o nosso tecido industrial, não numa lógica de proteccionismo mas de aproveitamento dos recursos endógenos e de incorporação das elevadas qualificações das gerações jovens.
Precisamos de investir na economia social, que tem demonstrado em Portugal ser capaz de aliar solidariedade, capacidade organizativa e inovação e que em momentos de crise desempenha um papel insubstituível no apoio aos mais carenciados. Precisamos de combater o desperdício, sem esquecer que o nosso principal desperdício é o desemprego.
É altura de não repetir os erros que estiveram na origem desta crise. É altura de procurar novas soluções, sob pena de uma crise muito grave se transformar numa espécie de terceira grande depressão.
Como Presidente, sem me subsituir ao governo, serei o inspirador de debates sobre as mudanças de que precisamos. E promoverei o diálogo entre todas as forças políticas e todos os parceiros sociais, porque precisamos de convergir num desígnio nacional que nos permita criar em Portugal, como diai António Sérgio, as condições concretas da liberdade e do desenvolvimento em que todos tenham lugar.
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