domingo, 16 de janeiro de 2011

Esta é uma luta política, cívica e ideológica

Num comício que voltou a juntar mais de um milhar de pessoas fazendo transbordar o Teatro Gil Vicente, em Coimbra, Manuel Alegre começou por dizer que estava ali “com o mesmo espírito” com que na sua juventude usou “pela primeira vez da palavra numa assembleia magna da associação académica.” Recordando os tempos em que “a liberdade era uma palavra proibida”, o candidato sublinhou a importância intemporal de uma atitude de esperança, ao afirmar o mesmo “espírito de resistência, de luta e de combate”.

Na sua intervenção, Manuel Alegre destacou a importância do acto eleitoral do dia 23 afirmando que nele estarão em oposição “o neoliberalismo que esteve na origem da crise mundial e os valores da democracia entendida como democracia política, económica, social e cultural”. O candidato explicitou essa diferença sublinhando que esta é também uma “luta política, cívica e ideológica”, em que a direita está “a reinventar a luta de classes”, uma vez que ambiciona “o poder todo contra a maioria dos trabalhadores, contra a maioria dos pequenos e médios empresários, contra a maioria do povo português”.

“Isto é também uma luta social, temos que saber de que lado estamos”, afirmou o candidato da esquerda progressista, criticando o candidato da direita por os seus actos não corresponderem às suas palavras. “Não basta dizer - eu sou um homem do povo - e depois estar do lado do grande poder da banca, do grande poder financeiro, do grande poder do capitalismo internacional”, condenou. “Se se é um homem do povo, que se seja fiel às raízes, que se seja fiel às origens, que se esteja perto daqueles que menos têm e daqueles que mais precisam, daqueles que estão a sofrer na sua carne, todos os dias, as consequências desta crise”, afirmou, recebendo uma prolongada salva de palmas.

Afirmando que “na política e na vida há sempre novos caminhos” e lembrando que Portugal já foi várias vezes pioneiro na História, “quando as naus portuguesas partiram para o mar desconhecido”, Manuel Alegre considerouque Portugal está a ser de novo “pioneiro” na História ao “bater o pé” à entrada do FMI. “Fomos Europa antes de a Europa o ser, não temos que ter complexos de inferioridade, não temos que ter complexos de bons alunos. Tivemos uma das primeiras revoluções liberais, uma das primeiras repúblicas e, quando se fez o 25 de Abril, foi também um movimento pioneiro, precursor, que abriu caminho à nova vaga democrática”, afirmou.

Para Manuel Alegre, “podemos ser de novo pioneiros, precursores – e estamos a sê-lo resistindo ao FMI, batendo o pé ao FMI e àqueles que de fora e cá dentro o querem cá”. “O caminho é dizer aos senhores que mandam no mundo e que querem mandar na Europa que esse não é o caminho”, defendeu, recebendo mais um prolongado aplauso.

Manuel Alegre referiu ainda os apoios do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda à sua candidatura sublinhando que não é “refém de ninguém”, ao contrário de Cavaco Silva que, “com as afirmações que tem feito ultimamente, está refém dos dois partidos que o apoiam, que estão com pressa de chegar ao poder empurrados por ele, encostados a ele”. “Ele ameaçou provocar uma crise política, ou seja dissolver a Assembleia da República, para abrir as portas do poder aos dois partidos que o apoiam. Ele deixou de ser um garante de estabilidade e ele é neste momento um factor de instabilidade”, acrescentou.

No seu discurso, Manuel Alegre deixou ainda uma palavra aos jovens, desafiando-os a assumirem um papel activo na construção do futuro. “Serei o vosso companheiro viagem. Façam um pacto de insurreição contra a precariedade da vossa vida. Ajudem a mudar a sociedade”, incentivou.

A terminar, o candidato apelou a toda a esquerda para que “não se distraia” e não deixe de votar, "depois não se venha queixar", pois “o que está em causa é mesmo o espírito da esquerda e da nossa democracia tal como está consagrada na Constituição”. “Se defender a democracia e o Estado Social é uma utopia, vamos realizar essa utopia, se derrotar Cavaco Silva é uma utopia, vamos realizar essa utopia”, exortou, sob as entusiásticas e clamorosas ovações de uma multidão em pé.

Antes do candidato, usaram da palavra Mário Ruivo, líder distrital do PS, António Arnaut, fundador do Serviço Nacional de Saúde e mandatário distrital da candidatura, Jacinto Lucas Pires, mandatário da juventude, Maria do Rosário Gama, membro da comissão de honra, José Manuel Pureza, dirigente e líder parlamentar do Bloco de Esquerda, e António Almeida Santos, Presidente do partido Socialista.


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