segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Manuel Alegre lança dois grandes apelos nos Açores

Contra os ataques especulativos a Portugal e pelos direitos sociais ameaçados
Manuel Alegre e Mafalda no jantar nos Açores

Foi numa sala com 1300 pessoas que Manuel Alegre fez o seu primeiro discurso da campanha eleitoral. Frequentemente interrompido por aplausos, Manuel Alegre bipolarizou com toda a clareza as razões que separam a sua candidatura da de Cavaco Silva. “Eu escolhi os Açores para apresentar a minha candidatura, Cavaco Silva escolheu a Argentina para atacar a autonomia”, afirmou, desenvolvendo a importância da autonomia para o progresso dos povos insulares.

“Sou o candidato de uma coligação de cidadãos apoiado por partidos e não, como Cavaco Silva, o candidato de uma coligação de partidos que quer ir para o governo” disse Manuel Alegre, insistindo em que a sua agenda “não é a de manter ou levar os partidos que me apoiam ao poder” mas sim exigir que “quaisquer que sejam os partidos no poder respeitem os cidadãos e as famílias e os seus direitos políticos e sociais.”

Alegre defendeu a necessidade de estar em Belém quem possa garantir o “equilíbrio de sensibilidades”, porque “quanto maiores forem as dificuldades do país e quanto mais os governos, com ou sem o FMI, tomarem medidas de austeridade, mais importante será ter em Belém quem esteja ao lado dos que sofrem com essas medidas."

Manuel Alegre insurgiu-se contra os ataques especulativos de “forças não nacionais” contra Portugal, mas acrescentou: “O que é lamentável é que essas forças não nacionais contem com a complacência e a cumplicidade de forças nacionais, que acima do interesse nacional colocam a sua impaciência ou a pressa de chegar ao poder.” Por isso lançou “um apelo à unidade nacional, ao sentido de responsabilidade, um apelo para que todas as forças políticas, do governo ou da oposição, coloquem o interesse nacional acima de cálculos eleitoralistas, ou de impaciência ou de outras contas.”

Para Manuel Alegre, o Presidente, mesmo em campanha, devia “fazer diligências junto de chefes de Estado ou de entidades da Comissão Europeia” para explicar que “a situação económica do país não justifica esta pressão especulativa nem a subida artificial dos juros da dívida” e que “não precisamos do FMI” para resolver os nossos problemas.

Os eixos centrais da candidatura
Na segunda parte da sua intervenção Manuel Alegre retomou a apresentação dos eixos centrais da sua candidatura, que já tinha exposto na véspera em Almada: a defesa dos valores; as questões institucionais e uma outra visão do papel do Presidente; e os direitos sociais, decisivos para a qualidade da nossa democracia e em risco.

Alegre reafirmou a defesa dos valores da República e da ética republicana, da tolerância e da abertura ao mundo e da liberdade, contra todas as formas de discriminação, porque não há liberdade sem liberdades, referindo a importância da aprovação de leis que
constituíram “grandes avanços civilizacionais” e afirmando que não deveríamos ter na Presidência alguém para quem o papel da mulher deve ser uma “fada do lar”, que trata do orçamento doméstico e dos filhos.

O candidato explicou a sua visão da função presidencial, contrapondo com exemplos de actuações de Cavaco Silva com as quais não concorda, desde o conceito de “cooperação estratégica”, que é errado porque faz do Presidente uma espécie de “tutor do governo”, até à forma de promulgar ou vetar as leis. Manuel Alegre foi muito claro: “uma lei promulgada é uma lei da República”, não pode ser logo a seguir desvalorizada pelo Presidente. Mas, disse, “se tiver de vetar uma lei, por ser contrária à minha consciência, aos valores que me levaram a ser Presidente ou aos princípios consagrados na Constituição, terei a coragem de vetar sem arranjar subterfúgios.”

Manuel Alegre considerou que é papel do Presidente ajudar a impedir “a desconstrução da Europa” e voltou a lançar a ideia de uma reflexão, a partir de Belém, com grande figuras europeias, de que citou, como exemplo, Felipe González e Jacques Delors.

A parte final do seu discurso foi centrada na defesa dos direitos sociais, contra a agenda política das forças conservadoras que, através da apresentação de um projecto de revisão constitucional, visam pôr em causa o serviço nacional de saúde, a escola pública, a segurança social pública e a justa causa nos despedimentos. “Tentaram desvalorizar a eleição presidencial porque precisam de um Presidente que lhes dê a garantia” de que mesmo sem revisão constitucional, os deixaria cumprir essa agenda, "descaracterizar o SNS, descaracterizar a escola pública, a segurança social pública e o conceito de justa causa" afirmou.

Alegre terminou a sua intervenção com um apelo a toda a esquerda e a todos os democratas, “a todos os que se reclamam da doutrina social da Igreja e que querem para Portugal uma sociedade mais justa, mais humanista e mais solidária” para uma grande mobilização contra a abstenção, confiante na segunda volta e na vitória, porque “nada está decidido, Cavaco Silva não está eleito, em democracia não há coroações, não há vencedores antecipados”.

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