sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Esta geração tem que ter futuro senão não temos país


Manuel Alegre foi o primeiro candidato presidencial a aceitar o convite da UBI para participar num debate com jornalistas locais e perguntas do público, no qual defendeu que é preciso “discutir os conteúdos do ensino” para criar uma “educação integral e humanística”, adaptada às “necessidades de modernização do país”e não para “as necessidades do mercado de trabalho, do Belmiro de Azevedo”.

Na resposta à questão sobre a formação de licenciados para o desemprego, Manuel Alegre defendeu que “esta geração tem de ter futuro, senão não temos país”. Para o candidato não há licenciados a mais e “não são eles que não se adaptam ao mercado de trabalho”, mas este é que “não se adaptou à nova qualificação de muitos jovens licenciados”.

Questionado sobre a incerteza e a precariedade laboral dos jovens, Alegre arrancou o maior aplauso da plateia quando os desafiou à rebeldia: “Não aceitem esta situação: rebelem-se, organizem-se, façam um pacto de insubmissão”. “Se for Presidente da República e se achar que os jovens estão conformados, vou arrastá-los para a rebeldia, porque eles têm direito à vida e têm direito ao futuro e isso a democracia tem que lhes garantir”, reforçou o candidato.

Sobre os motivos da sua candidatura, Manuel Alegre defendeu a necessidade de mudar de paradigma, assumindo-se como “defensor do Estado estratega”. “A mudança de paradigma passa por um reforço dessa função estratégica do Estado”, sublinhou, considerando que “aqueles que falam do Estado mínimo em Portugal querem o Estado máximo para eles e um Estado mínimo para o povo português”. Para o candidato, “o capitalismo com esta falência e esta desregulação está a reinventar a luta de classes entre países ricos e pobres e dentro de cada sociedade”.

Manuel Alegre defendeu ainda a importância do combate às assimetrias regionais e à desertificação do interior, que considera “um dos mais graves problemas do país” e um factor de desigualdades, não só sociais, mas de “quebra da coesão nacional”. “Essa também é uma função do Estado, não de repovoar, mas de definir políticas que permitam fixar as pessoas”, afirmou. Contudo, para o candidato, a correcção do “desequilíbrio entre o interior e o litoral” passa não só pelo investimento público mas também pelo privado, apelando á coragem dos empresários para investir e arriscar no interior.

Acerca dos poderes presidenciais, Manuel Alegre considera que o actual Presidente “numa primeira fase, teve um pendor excessivamente executivo que não levou a lado nenhum e na fase decisiva esteve ausente”. Na sua concepção, o Presidente da República “ não governa, é um regulador que tem que ser imparcial e, por natureza, suprapartidário, não toma o partido de nenhuma força política”.

Questionado sobre a acção de Cavaco Silva, Alegre diz que foi “tão discreta que não se deu por ela” e “criou a ilusão de que por ser economista ia resolver os problemas do país”, mas “isso não serviu de nada”. Para o candidato, é preciso “uma visão cultural humanista, de alguém que conheça a história do país. Eu estou muito mais bem preparado que Cavaco Silva, porque conheço a história e sei há muito tempo, desde pequeno, quantos cantos tem Os Lusíadas”, a epopeia escrita por Luís de Camões em 10 cantos.

À pergunta sobre esta ser uma “campanha de um homem só”, Alegre respondeu que é “um estereótipo”. “Há muito tempo que não se encontrava tanta gente vinda de tantos sítios diferentes numa campanha”, afirmou, referindo-se ao apoio, não só do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda, mas também dos movimentos cívicos como o MIC, os Cidadãos por Lisboa e a Renovação Comunista.

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